OLHO POR OLHO

do outro lado da rua tem uma janela velha
com uma cortina podre atrás da qual
uma velha feia se esconde
para me espreitar todos os dias.

eu sei quando ela está lá porque a simples presença
da megera espanta os pássaros dos fios de luz
e afugenta os gatos que tomam sol embaixo da janela.

a fresta por entre as abas da janela é fina
mas com o meu binóculo Zetax consigo localizar
o topo da cabeça e imaginar a posição do olho
que me espreita mais abaixo.

isso me faz lembrar do tempo em que eu era cobra
no tiro com espingarda de pressão com chumbinho envenenado
(eu os mergulhava no vinagre até começarem a esverdear).

nunca um camundongo ou uma barata desatenta
sobreviveu num raio de trinta metros lá no fundo do quintal:
o chumbinho sempre entrava pela cabeça, varava tudo e sumia na terra.

se fosse naquele tempo a velha da janela já não estaria mais
enxergando um pingo de luz sequer com uma das vistas mas,
olho por olho, preciso ir urgente ao oculista.